sexta-feira, 1 de julho de 2016

Reflexão sobre o Acolhimento Institucional

childtrends.org
ESTADO DE EMERGÊNCIA CRÓNICA

Chegas e entras. Não porque queiras mas porque tem de ser. A tua vinda é apenas uma vírgula numa luta incessante que vai durar toda a vida para mostrares a ti mesmo que és mais forte do que a morte que tens por dentro. Morte da liberdade e do valor, enquanto de vida te resta a voracidade do medo, que em metástases de ódios e culpas se expande pela única competência que te resta: conseguir afastar o agressor. E consegues, tornando-te tu o agressor porque és claro na mensagem: "ninguém faz mais de mim o que quiser". Mas faz. O tribunal decide que vais novamente para uma unidade de emergência de uma casa de acolhimento e que durará apenas dois dias. Passados os dois dias, irás para um centro terapêutico onde te vão ajudar a seres menos violento. Mas não vais. Passam dois dias, mais dois dias, duas semanas, dois semestres e  continuas em unidade de emergência da casa de acolhimento, fazendo das tuas, desesperando e exigindo verdade, praticando a mentira. Só podes mentir. É o código vigente. Até que pegas fogo à casa e foges de vez. Nunca mais hás de ser verdadeiro com ninguém. Nem contigo próprio. Aprendeste a pior lição da vida, só podes confiar na mentira. Mas a vida mais ninguém te a tira... a não seres tu.

Esta realidade tão dramática e esta mentira institucional está assim determinada no quotidiano de jovens encaminhados para a unidade de emergência de casas de acolhimento que dão o possível e o impossível para proteger as crianças e jovens do perigo e da violência a que foram traumática e involuntariamente expostos. Os profissionais destes centros deparam-se todos os dias com a inevitabilidade da traição: ou traem a confiança dos adolescentes mentindo-lhes todos os dias sobre a duração da medida de "proteção" ou desqualificam os tribunais e as comissões de proteção revelando ao adolescente que a medida é mentirosa e que o seu estado de emergência será crónico, com termo indeterminado. Existem centros de acolhimento que lutam todos os dias pela transparência e sinceridade com os adolescentes que recebem na unidade de emergência quase todas as semanas. Estes profissionais decidiram que não se pode esperar pelo final da emergência e que a verdadeira emergência é a do acolhimento. Colocam em risco, todos os dias, a sua própria saúde mental, para lidar com a tensão da revolta que todos estes adolescentes trazem da fuga da vida. Tentam transmitir a melhor lição da vida: há alguém que se importa.


Transparência e sinceridade não são apenas valores, são armas pacíficas contra o crime. Estão acessíveis a toda gente. São um dever de toda a gente. As famílias, as instituições, as sociedades têm urgentemente que aprender a promover relações de confiança, dizendo a verdade e acompanhando o processo de construção de verdades. A verdade é a ideia que fazemos do que construímos uns com os outros. Se não construímos nada uns com os outros a verdade só pode ser uma: a de que a relação é uma mentira.

6 comentários:

  1. Ler, impressionante registo Ótimo artigo

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  2. É exatamente isto!
    Que texto fantástico!
    Como técnica num Lar de Infância e Juventude, identifico-me a 100%!

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  3. MT interessante, esta luta só tem sentido por elas e por eles e qd uma vida se salva, já ganhamos! VALEU A PENA!
    QUE NAO SE ESTRAGUE MAIS O QUE AINDA VALE A PENA,RESPONDER ÀS NECESSIDADES DESTA "MALTA" QUE TODOS OS DIAS NOS ENSINAM A QUERER SER MELHOR PROFISDIONAL, MELHOR PESSOA.
    QUEM DÁ E SE DÁ POR AMOR, NÃO DÁ.....RECEBE! LUÍZA ANDALUZ

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  4. MT interessante, esta luta só tem sentido por elas e por eles e qd uma vida se salva, já ganhamos! VALEU A PENA!
    QUE NAO SE ESTRAGUE MAIS O QUE AINDA VALE A PENA,RESPONDER ÀS NECESSIDADES DESTA "MALTA" QUE TODOS OS DIAS NOS ENSINAM A QUERER SER MELHOR PROFISDIONAL, MELHOR PESSOA.
    QUEM DÁ E SE DÁ POR AMOR, NÃO DÁ.....RECEBE! LUÍZA ANDALUZ

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